Altos de Pinto Bandeira obtém 1ª D.O. exclusiva de espumantes do Novo Mundo

Reconhecimento publicado no dia 29 de novembro, na Revista da Propriedade Industrial foi festejado pelas vinícolas Aurora, Don Giovanni, Geisse e Valmarino, que passam a exibir nos rótulos de seus espumantes únicos a distinção que eleva e consolida a posição da região e do Brasil no universo da bebida

Imagem: Arquivo Asprovinho

Foram 10 anos de maturação. Desde que a Associação dos Produtores de Vinho de Pinto Bandeira (Asprovinho) deu o primeiro passo na busca da obtenção da Denominação de Origem (DO) Altos de Pinto Bandeira, ainda em 2012, o trabalho nunca mais parou. Esta década serviu para consolidar processos já adotados pelos produtores, conscientes de suas condições privilegiadas de terroir – solo, clima e homem -, ideais para a elaboração de espumantes naturais de excelência. Daqui para a frente, toda garrafa de espumante natural que nasce nesta região delimitada e exibe o Selo da DO estará entregando a garantia da procedência e qualidade das uvas, assim como de cada etapa do caminho, do vinhedo à taça.

Para ter direito ao uso do Selo da DO em seus espumantes naturais, as vinícolas Aurora, Don Giovanni, Geisse e Valmarino têm que cumprir regras rigorosas de controle, desde o cultivo das uvas até o engarrafamento. O saber fazer agrícola, vitícola e vinícola deve estar em perfeito equilíbrio durante todo o processo. Tudo começa com as variedades autorizadas – Chardonnay, Pinot Noir e Riesling Itálico – que, além de serem cultivadas na área geográfica delimitada, também precisam ser conduzidas pelo método espaldeira. A interação clima-solo-videira é o que confere as características particulares necessárias para a elaboração do vinho base que vai originar o espumante natural dos Altos de Pinto Bandeira. O resultado são uvas com maturação moderada e composição equilibrada entre acidez e açúcar, com precursores aromáticos que resultam em qualidades e características de cor, aroma, paladar e estrutura determinadas pelo meio geográfico. Para completar, destaque para a atividade do homem que revela e evidencia, através de sua sensibilidade e conhecimento, a identidade do local.

Mesmo seguindo todo este protocolo, é preciso submeter os produtos a análises laboratoriais e sensoriais, com gestão do Conselho Regulador da DO. Somente depois é que o produto está apto a receber o rótulo com o Selo e seguir para a mesa do consumidor. Os primeiros espumantes com a DO Altos de Pinto Bandeira devem chegar ao mercado a partir do ano que vem.

Para o presidente da Asprovinho, Daniel Geisse, a notícia foi recebida com muita comemoração. “Formalizar o que já estamos desenvolvendo há muitas safras é brindar a persistência de todos os envolvidos, unidos num único propósito. Agora podemos trabalhar na consolidação do posicionamento da marca no cenário nacional e no mundo do vinho. Isso porque a DO dos Altos de Pinto Bandeira é a única DO exclusiva de espumantes do Novo Mundo”, destaca. Esta conquista somente foi possível graças a expertise e trabalho especializado de parceiros como a Embrapa Uva e Vinho, Universidade de Caxias do Sul (UCS), Universidade Federal do Rio Grande do Sul (Ufrgs), Sebrae Nacional, Sicredi Serrana e Poder Público Municipal de Pinto Bandeira.

Para Jorge Tonietto, pesquisador da Embrapa Uva e Vinho que coordenou o projeto de estruturação da DO Altos de Pinto Bandeira, esta é uma conquista dos produtores da região, sob a gestão da Asprovinho, numa parceria com a ciência, envolvendo um conjunto de cientistas da Embrapa, bem como da parceria da Ufrgs e UCS. “Esta Denominação de Origem possui equivalência estrutural e apropria um alto nível qualitativo, como o existente nas prestigiosas Denominações de Origem de espumantes do Champagne da França ou Franciacorta da Itália”, ressalta. Tonietto, complementa, afirmando que o espumante é o produto ícone da Serra Gaúcha e a Denominação de Origem garante a alta qualidade e originalidade do que há de melhor para este produto. Segundo ele, representa um nível organizacional ímpar para o Brasil, um avanço, uma inovação, que vai continuar inspirando novas iniciativas, colocando o Brasil no lugar que merece pela qualidade do que faz. “O trabalho da Embrapa e parceiros foi decisivo para esta conquista, seja na definição do Caderno de Especificações Técnicas que contempla o conjunto de requisitos de produção que garantem a qualidade dentro da tradição da região, seja na delimitação da área de produção, na caracterização do meio físico, do sistema produtivo vitícola e enológico, bem como na caracterização analítica e sensorial dos espumantes, bem como de todos os estudos que possibilitaram este reconhecimento com base nas exigências da legislação do Brasil na matéria”, conclui.

Características da região

A DO dos Altos de Pinto Bandeira abrange 65 km² de área contínua, sendo 76,6% localizada no município de Pinto Bandeira, 19% em Farroupilha e 4,4% em Bento Gonçalves. A altitude média da região é de 632 metros, com terrenos de relevo ondulado até montanhoso. As temperaturas são mais amenas, enquanto a exposição solar é favorecida pela localização na margem esquerda do Vale do Rio das Antas e pela boa circulação horizontal do ar no alto de um dos patamares do Planalto Basáltico da Serra Gaúcha. Este conjunto de características influencia na escolha de técnicas de cultivo e manejo dos vinhedos, interferindo diretamente na qualidade do vinho elaborado.

Principais regras para o uso da DO Altos de Pinto Bandeira

1 – Cultivares autorizadas: Chardonnay, Pinot Noir e Riesling Itálico, sendo que os vinhedos devem ser cultivados, exclusivamente, na área geográfica delimitada e estarem declarados no Cadastro Vitícola.

2 – Origem das uvas: As uvas devem ser cultivadas 100% na área geográfica delimitada da DO Altos de Pinto Bandeira.

3 – Sistemas de Condução: espaldeira.

4 – Produtividade: limite máximo por hectare de 12t/ha. A colheita mecânica é proibida para as uvas destinadas à DO, que também devem apresentar mais que 14º graus babo.

5 – Elaboração: Os espumantes com DO somente podem ser elaborados pelo Método Tradicional com tempo superior a 12 meses de guarda. Quanto ao açúcar residual estão autorizadas as classes Nature, Extra-Brut, Brut, Sec e Demi-Sec.

6 – Processos Enológicos:

– É permitido o uso de barricas de carvalho, tanto na primeira fermentação quanto no vinho base para espumante, sendo que para ter a DO é necessário ter a segunda fermentação na garrafa.

– Os vinhos base para espumante devem ter no máximo cinco anos, contados a partir da data de término da respectiva safra de uva.

– É permitido o uso de diferentes safras de vinhos base para espumante nos cortes, desde que das variedades autorizadas. Nos cortes, o vinho base de Riesling Itálico terá um percentual máximo de 25% sobre o volume do produto final.

– O vasilhame autorizado é, exclusivamente, o de garrafas de vidro nos volumes 375mL, 750mL, 1500mL e 3000mL.

– Padrões de Identidade e Qualidade Organoléptica do Produto: espumantes da DO devem ser aprovados em avaliação sensorial realizada pela Comissão de Degustação, gerida pelo Conselho Regulador da DO.

– Espumantes Safrados: Os espumantes da DO Altos de Pinto Bandeira podem ser safrados, devendo conter, no mínimo, 85% de vinho base da safra mencionada.

– Rotulagem: O rótulo principal deverá conter a identificação do nome geográfico da DO, seguido da expressão Denominação de Origem. A rotulagem também deverá incluir o Selo de Controle numerado, especificando o número do lote e da respectiva garrafa do lote.

CONSELHO REGULADOR DO ALTOS DE PINTO BANDEIRA 2022-2024

Presidente: Maciel Ampese

Vice-presidente: Carlos Abarzúa

Demais Membros: Mauro Celso Zanus (Embrapa Uva e Vinho) e Ivanira Falcade (UCS), como representes de Instituição Técnico/ Científica com conhecimento em Cultura e Enologia; Jurandir Nosini (ABE); Flávio Zílio e Vanessa Stefani (representantes das empresas associadas

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