Como o trabalho encampado pela entidadeinfluenciou nas mudanças do sistema de bandeiramento
Como protagonista de ações transformadoras na sociedade, oCentro da Indústria, Comércio e Serviços de Bento Gonçalves (CIC-BG) exerceuinfluência, no Rio Grande do Sul, diante de um dos mais graves casos de saúdepública das últimas décadas. O modelo de bandeiramento proposto pelo governo doEstado a fim de coibir o avanço da pandemia da covid-19 nunca gozou de totalprestígio na organização. Não pelo seu objetivo, é claro, mas pela penalizaçãoaos setores produtivos como supostos multiplicadores do contágio, mesmo diantede todos os protocolos de segurança seguidos pela indústria e pelo comércio.
Foi o trabalho de uma diretora do CIC-BG que ajudou aentidade a marcar posicionamento para auxiliar num movimento, inicialmenteregional, que acabou com o recuo do governo e a adoção do modelo de cogestão doDistanciamento Controlado com os municípios. A vice-presidente para Assuntos doComércio do CIC-BG, Marijane Paese, começou a monitorar os números da pandemiana cidade em abril. Formada em Matemática e Física e com mestrado emEstatística, ela também passou a analisar os mesmos 11 indicadores adotadospelo governo para definir a cor da bandeira nas regiões do Estado. “Nãoacredito em coincidências, acredito que tínhamos as pessoas certas na horacerta para enfrentar esse problema inimaginável, e contar com a Marijane foi detamanha importância porque ela deu suporte com seu conhecimento ao trabalho nãosó do município como também do modelo de distanciamento”, elogia o presidentedo CIC-BG, Rogério Capoani, grande articulista com o Comitê de Atenção aoCoronavírus do município para que Marijane fosse abastecida com informaçõesatualizadas da pandemia. “Foi através dos recursos dela, que acabaraminfluenciando nos critérios do governo, que muitos comerciantes que estavam comas portas fechadas tiveram a oportunidade de reabrirem seus estabelecimentos”,reforça o presidente do CIC-BG.
O trabalho foi de grandes proporções – exigindo tempo ededicação extremos – desafio que a empresária assumiu pelo compromisso decontribuir com a comunidade, assumido ao aceitar o convite para participar dadiretoria de Capoani no biênio 2020/2021. “Sempre procurei fazer trabalhovoluntário, desde os meus 12 anos. Acredito que é importante como ser humanoter por prática essa doação sem retorno. Inclusive essa é a mensagem que tentotransmitir aos meus filhos através do exemplo. Aceitei o desafio de poderauxiliar nos assuntos do comércio, minha atual atividade. Consegui contribuirnesse período com pesquisa voltada ao setor do comércio no início da pandemia ecom o trabalho junto ao Observatório e a Amesne na elaboração dos recursos noquesito modelo de distanciamento controlado”, conta.
Engajamento motivou criação de plataforma que serviu àregião
Com base nas avaliações cuidadosamente feitas, Marijanepercebeu que Bento Gonçalves, em meados da segunda metade de maio, começou amostrar estabilidade no número de casos. Com isso, criou uma plataforma deanálise que ajudou não só a divulgar dados, mas interpretá-los, sustentando ascríticas já em curso por parte do CIC-BG. Isso foi fundamental para quemunicípios e entidades da região, numa reunião de entes públicos e privados,começassem a questionar o modelo do governo. A ferramenta, adaptada paracontemplar realidades locais, foi compartilhada com municípios da região, dandobase para um grande movimento na Serra no qual instituições e profissionais desaúde também ingressaram. O trabalho é realizado diariamente contemplando umasérie de análise de dados.
Esse processo contribuiu para a elaboração dos recursossolicitando reversão de bandeiras junto ao governo, bem como os pedidos demudanças na avaliação dos indicadores. No total, dos oito recursos interpostos,a região conseguiu obter sucesso em cinco deles. “O cenário adverso contribuiupara que cada um pudesse compartilhar seu conhecimento em prol do mesmoobjetivo. Eu, particularmente, pude agregar o embasamento de minha formaçãopara atuar nas análises estatísticas. O respaldo estatístico é de extremaimportância para que se avalie o nosso contexto, a fim de que possamos seresclarecedores nas informações junto à população em meio a tantas incertezas”,lembra.
Avaliação embasada na experiência
Marijane destaca estatísticas semanais com o perfil dashospitalizações e avaliação das taxas de internação. Participação na elaboraçãodo relatório técnico do modelo de cogestão, bem como análise de dados doSistema de Informações de Vigilância Epidemiológica (Sivep) para identificaçãodo perfil dos óbitos e do estágio de evolução da doença na Serra, avaliandovariáveis de casos confirmados, hospitalizações e mortes.
Gabaritada pela experiência e conhecimento acumuladosdurante meses de aprofundado trabalho, Marijane compartilha sua percepção sobrecomo serão os próximos meses para a microrregião. “Em relação à pandemiaacredito que estamos entrando em uma outra fase, a avaliação do cenário atual éde gradativa melhoria. Com 7 meses de pandemia aprendemos muito, e hoje não setem tantas incertezas em relação ao comportamento do vírus. Comresponsabilidade, sem abandonar os cuidados preventivos, gradativamentevoltaremos a ‘normalidade’”, avalia. Em relação ao cenário econômico, a opiniãoé ainda mais animadora. “A retomada está sendo mais rápida do que imaginávamose apesar da pandemia, acredito em cenário de crescimento para 2021”, pontua.