Vindima de 2024 destacou-se pela oferta de programações e experiências diferenciadas no intuito de atrair e conquistar visitantes
Em um ano cuja safra foi penalizada pelos efeitos do El Niño, responsável por uma quebra média de 35% na colheita da uva, os empreendedores – em especial as vinícolas – do Vale dos Vinhedos, no Rio Grande do Sul, não pouparam criatividade para fazer dos eventos da Vindima um sucesso. Ousar em programações diferenciadas e investir no turismo de experiência como protagonista foi a escolha acertada em muitos casos.
Foi assim na vinícola Dom Cândido que, para escapar do forte calor deste verão – outro obstáculo para o turismo -, apostou na vindima noturna e obteve bons resultados. A vinícola foi uma das associadas da Aprovale (Associação dos Produtores de Vinhos Finos do Vale dos Vinhedos) que teve programações especiais para receber os turistas no período da Vindima. “Inovamos neste ano, inclusive organizando grupos exclusivos fechados, oferecendo, além da experiência da colheita e da pisa, jantares harmonizados e brindes especiais”, conta a gerente de marketing da vinícola, Franciele Camargo. A estimativa é de que, com essa programação, a Dom Cândido aumentou em torno de 20% o movimento de turistas em relação aos anos anteriores, a maioria deles vindos do Sudeste do Brasil.
Já na Vinícola Videiras Carraro, a estratégia, também para escapar do calor, foi apostar no sol da manhã como forma de levar o turista à autêntica experiência do produtor de vinho. “O horário da manhã é mais fresco, e como fazemos todas as atividades no parreiral, desde a colheita, em que o turista escolhe a própria uva, até a pisa, foi mais agradável a todos dessa forma. Durante a tarde, também tivemos movimento, mas mais concentrado nas vendas”, conta a sócia-proprietária da vinícola, Brenda Casagrande. Na Videiras Carraro, depois de passar pelo contato com a uva, o turista é recebido por uma festa italiana recheada de muita cultura, com a participação de um gaiteiro e de um historiador que conta um pouco da trajetória da família e da colonização italiana. “Notamos um perfil de turistas neste ano mais forte de estados como Goiás e Mato Grosso. Mas a maior parte, vinda de São Paulo e Minas Gerais. Somos muito conhecidos no Brasil inteiro a partir das plataformas digitais. É por ali que vendemos desde o vinho até pacotes com piqueniques e a Vindima”, diz. Em relação ao número de visitantes, porém, o resultado de 2024 não foi tão positivo. Houve, segundo Brenda, queda na movimentação.
Esse cenário é resultado de uma série de fatores macro. “De maneira geral, houve leve redução no movimento de turistas durante a Vindima deste ano, assim como em todos os roteiros turísticos do Sul. Foram todos afetados pela extrema elevação de tarifas aéreas para os principais destinos do país”, explica a diretora de Infraestrutura e Enoturismo da Aprovale, Deborah Villas-Bôas Dadalt.
Deborah é sócia-diretora do Spa do Vinho Hotel & Condomínio Vitivinícola, e por lá, o cardápio de vivências nesta Vindima também foi bastante variado, com privilégio para o resgate das tradições da imigração italiana e valorização de um público cativo. “Experiências como a vindima em parreirais centenários, a pisa da uva em mastela e a elaboração do vinho doce, proporcionam memórias sensoriais e conquistam o visitante pela emoção. E para o público enófilo, que quer saber como preparamos vinhos premium, lançamos neste ano um novo restaurante, com um menu especialmente preparado para harmonizar à perfeição com os nossos vinhos da região certificada”, conta ela.
No Spa, há clientes que já retornaram dezenas de vezes ao Vale dos Vinhedos. Neste local, há hospedagens, assim como no Hotel Villa Michelon. Com um ticket médio de R$ 1,3 mil, que inclui duas diárias e todas as atividades, alimentação e bebidas referentes à Vindima, o movimento em 2024 reduziu em relação ao ano anterior. “Depois daquele boom turístico do pós-pandemia, parece que agora entramos em um momento de estagnação, que não é exclusivo daqui. Observamos, por exemplo, redução de estrangeiros neste ano. Mas é cíclico, e por isso seguimos investindo na nossa infraestrutura para receber este turista, que é fundamental para a nossas vinícolas e todo o Vale dos Vinhedos”, diz a diretora Elaine Michelon.
No Villa Michelon, ocorre um evento completo com o tema da Vindima, o La Bella Vendemmia, que inicia com uma viagem à história da uva e do vinho e da colonização italiana, passando à experiência da colheita e pisa da uva. Este roteiro conta, por exemplo, com áreas cobertas para os turistas vivenciarem a experiência. Depois, acontece a recepção na Casa do Filó, com direito a muita música, dança, comidas típicas italianas e até o vinho encanado.
Mobilização continua
Se a colheita de uvas já encerrou, a busca pelo fortalecimento do turismo segue em alta no Vale dos Vinhedos. Associação dos Produtores de Vinhos Finos do Vale dos Vinhedos, a Aprovale prepara a terceira edição do festival ‘Despertar no Vale’ no dia 06 de abril, prometendo oferecer aos visitantes uma charmosa agenda enogastrônomica, protagonizada por mais de 30 estabelecimentos participantes – entre vinícolas, restaurantes e negócios setoriais. A programação é ao ar livre, iniciando às 10h e encerrando a meia-noite, entremeada por muitos shows ao vivo, emoldurados pela bela paisagem do local.
O propósito do festival é, justamente, enriquecer a agenda de atividades na transição do verão, época de vindima, para o outono, quando as videiras trocam a paleta verde das folhas pelo alaranjado. “O Vale dos Vinhedos é um lugar repleto de nuances que podem ser descobertas e apreciadas em diferentes ocasiões. Todas essas formas trazem a cultura da uva e do vinho como elemento da identidade da nossa gente e oportunizam o fortalecimento da entidade e do associado, continuamente revigorando o Vale como o grande polo indutor do enoturismo nacional”, destaca o presidente da Aprovale, Ronaldo Zorzi.