A expectativa era de que o empresário José Eugênio Farina, o Seu Geninho, não falasse na homenagem que recebeu no dia 05 de julho, do CIC-BG. Mas logo que obteve das mãos do presidente da entidade, Elton Paulo Gialdi, o troféu Dom Empreendedor, sendo aplaudido de pé, fez questão de falar um pouco sobre sua trajetória relevante que justificou a entrega da outorga.
Foi ouvido, durante cerca de 25 minutos, por um público que se manteve de pé, em respeito não só à história de um dos mais reconhecidos empresários de Bento Gonçalves, mas também em reverência a seu caráter. “Gostaria de agradecer àqueles que me ajudaram, porque os anos se passaram e difícil foi agradecer a todos”, disse Farina.
Prestes a completar 95 anos – no dia 10 de agosto -, seu Geninho fez um relato sobre o incêndio que consumiu a Todeschini numa noite de 1971, no mesmo dia que ele quitara os débitos para se tornar sócio da famosa empresa produtora de acordeões. Relembrou o momento emocionado. “Vendi tudo, sou um pouco louco, não se deve fazer isso”, aconselhou, sorrindo. “Vendi tudo o que eu tinha, fiz empréstimo e investi tudo em cinzas. Acabou com meu trabalho de 30 anos e com minha esperança. Foi muito triste”, contou, sobre o fogo que destruiu a empresa durante aquela fatídica noite.
Seu Geninho relembrou que sempre quis trabalhar na empresa, tratada por ele como uma potência. “Quando eu era jovem, eu saía da minha casa e passava na frente da Todeschini, olhava e dizia assim: algum dia eu irei trabalhar nessa fábrica, de tanto orgulho que nós tínhamos”.
Seu Geninho foi logo acordado do sono quando a empresa se desmanchava em chamas. Lembra que só pediu para que a mecânica da empresa não fosse atingida. Assim, teria condição de “fazer alguma coisa” a partir das fresas e planas. E fez, graças ao fogo que não atingiu o local. Transformou a empresa que era referência em instrumento musical em referência em móveis planejados. “Tenho muito orgulho de a empresa ter ressurgido das cinzas”, falou.
Seu Geninho fez questão de relembrar do apoio recebido da mulher, Lourdes Bortolini Farina. Ao chegar em casa ela perguntou a ele o que havia acontecido. Ele respondeu que a empresa tinha acabado. “Ela me deu um abraço, me apertou os braços e disse vá lá, vá lá. Que coisa linda, disse tudo num vá lá”, contou, aos risos.
Muito desse orgulho está, em parte, disseminado na capacidade de não ter deixado os então 500 funcionários órfãos de trabalho. “Hoje são 1,5 mil”, comemorou, sem esquecer de dividir os louros da conquista. “Tenho que agradecer muito à equipe e meu amigo, Alcides José Fontanari, e tivemos o apoio de usar os pavilhões da Fenavinho. Eu me orgulho de dizer que eu fui um participante disso, quem na realidade conseguiu levantar a Todeschini foi a minha equipe”, contou. “Acho que fiz também por amor que sempre tive por esta cidade, está dentro do meu peito, está no meu sangue. A cidade que me acolheu desde meu nascimento até minha idade, então eu tenho por obrigação de zelar pelo bem da nossa cidade”, disse seu Geninho.
O presidente do CIC-BG, Elton Paulo Gialdi, disse que o admira pela forma e visão que implementou e conduziu em sua empresa, de modo a não negar sua grandeza. “O senhor sempre se abriu e se mostrou para o seu entorno, se relacionando com o meio e a sociedade que constitui e assim ajudando muito a se desenvolver e prosperar, nunca se fechou ao vizinho e nem à comunidade que integra”, enalteceu. “Me parece que o senhor Geninho é daqueles empresários que não fazem clientes, e sim fazem amigos. Este é um grande exemplo que deve ser seguido”.
O troféu Dom Empreendedor foi instituído para valorizar os empresários e empreendedores que, com sua visão, contribuíram para o desenvolvimento de Bento Gonçalves através de seus empreendimentos. O troféu foi confeccionado pelo artista Ivalino Postal.
Crédito das imagens: Barbara Salvatti/Exata Comunicação