2020 tem sido um imenso paradoxo. Talvez nunca tenhamos tido tanto tempo para nós no tempo das nossas vidas. E nesse mesmo tempo, que imploramos por tempo, também reconhecemos que a vida é tão rara para perder tempo no tempo. Paradoxo.
Vivemos em um mundo baseado em um sistema de ego e poder que sussurra em nossas mentes com uma forma licita de aprendizado um tanto quanto doente. Precisamos TER para SER e SER para TER, e esse sistema, que segue um modo operante na máquina “racional” que somos nós, não tem espaço para a engrenagem essencial: você! Você não existe no sistema.
Foi uma pandemia global que te parou. Seja ela a vilã ou a heroína dessa história, ela fez o sistema parar. E quando o sistema parou, o modo operante da máquina teve que usar de novos artifícios para manter o funcionamento. Foi aí que o tempo também parou, e sobrou, e ficou, e você teve a chance de desligar o funcionamento automático e voltar para o chão da fábrica que a muito tempo se quer sabia como estava. E aí você pirou. Já fazia tanto tempo. Quem é você agora?
A pandemia é um paradoxo.
Meia vilã, meia heroína, ela chega a nós no ano em que nosso planeta passa a ser regido pelo astro rei Sol, o mesmo Sol que nos conta profeticamente que nada mais poderia ficar no escuro, que a sombras e as trevosidades que nos habitam viriam ao encontro da luz, que nossa luz também encontraria a luz, e que as máscaras iriam cair (outro paradoxo) e nada nem ninguém esconderia do que é feito.
Profecias e sua inabalável natureza. Qual a melhor forma de atingir um sistema gerado pelo ego e pelo poder?
Nossa máquina foi atingida por um vírus, nosso sistema foi corrompido e nossos segredos foram encontrados. Mostramos a partir da pandemia do que realmente somos feitos e arrancamos nossas máscaras, para o mundo e para nós mesmos.
E quando de volta ao chão da fábrica, onde a maioria de nós se assustou tanto com o que encontrou, imploramos para o tempo em excesso deixar de existir, para o sistema da engrenagem que nos escraviza voltar a funcionar, porque obviamente era mais fácil quando as engrenagens que me excluem agem por mim. Quem sou eu quando não TENHO para SER e não SOU para TER? O que sobra? O que resta quando se quer sei quem eu sou?
Tempo, tempo, tempo, tempo.
Gerou tempo. E quando no tempo, gerou agressividade, gerou medo – de morrer e empobrecer – gerou culpa, gerou revolta, gerou julgamento, gerou e gerou tanto que ficamos estreitos, finos e delicados feito uma pétala de flor. Propícios a romper a qualquer momento.
Mas quando no tempo, também gerou a compaixão, a misericórdia, a união da espécie pela espécie que talvez, pela primeira vez na vida, entendeu o sentido profundo da empatia quando na pele também sentiu, gerando ajuda, cuidado, sacrifício. Fomos postos na pressão de pensar no próximo, e tivemos a chance de escolher quem ser, ainda assim.
E escolhemos.
Não precisávamos de uma pandemia, mas precisávamos. E a partir dela, e com todo o poder do sol nos libertando, escolhemos um lado. Essa é a beleza da engrenagem quando sussurra acima do sistema. Você aparece.
Acredito que todos nós tenhamos enlouquecido de muitas formas. Alguns ainda estão enlouquecendo. Eu estou.
O sistema do ego teve que sofrer um pane para que eu voltasse ao chão da minha fábrica como nunca antes tinha voltado. Reencontrei minha luz, reencontrei minha escuridão, e na morte certa do ego, me reencontrei.
Velhas engrenagens voltaram ao trabalho, e mergulhada em quem eu sou e escolhendo quem ser, passei a existir no sistema, para mim mesma.
No hoje, com os olhos na esperança, desejo com todo meu coração que muitas outras engrenagens possam ter tido a chance, no tempo e na luz do sol, de voltarem ao seu funcionamento.
Namastê.