Eu senti como se estivesse atravessando de novo aquela ponte. Pouco antes, menos de 12 horas, havia aterrado pela primeira vez naquele país e agora eu já me sentia em casa. A cada passo, aumentava a sensação estranha de que eu já tinha atravessado aquele rio. Até hoje não sei nominar aquilo, mas sabe um deja vu? Aquela sensação de que você já esteve em determinado lugar ou já fez a mesma coisa antes? Aquele era meu primeiro dia na Itália.
Essa história começou com um intercâmbio da UFRGS e terminou com anos de pesquisa para construir a árvore genealógica. A propósito, há poucas semanas a Science noticiou que foi realizada a maior árvore genealógica do mundo que percorre mais de 100 mil anos! Talvez você não saiba que, de acordo com a teoria matemática, se você pudesse projetar 75 gerações, completaria a árvore genealógica da humanidade, que conectaria o mundo inteiro: de um aborígene na Austrália, passando por um europeu, um africano, até um esquimó no Alasca. Parece muito, não é? Mas são 75 gerações, não é tanto, cerca de 2.000 anos. E não estou falando de voltar ao homem das cavernas.
Mas… eu não tenho nenhuma informação, então como começo?
Uma pesquisa genealógica começa pelo seus pais, e deles passa aos seus avós e assim, sucessivamente, geração por geração. Por exemplo, caso você pegar nas mãos a certidão de nascimento de seu pai, ali consta o nome dos quatro avós dele. Como? Toda vez que uma criança é registrada, o nome dos quatro avós é referido na certidão de nascimento. Então você já tem mapeadas três gerações: seu pai, seus avós e seus bisavós paternos. Da mesma forma, na certidão de nascimento do seu avô, constam os nomes dos quatro avós dele.
Você percebe o quanto esse documento é poderoso? Isso quer dizer que na certidão de nascimento de seu avô, você descobrirá os nomes dos avós DELE que são…os seus IMIGRANTES ITALIANOS em 99% dos casos. Pronto. Aí se a intenção for a cidadania, você já localizou quem são os italianos. Ou seja, somente com a certidão de nascimento do seu pai e a certidão de nascimento do seu avô, você terá dados para “desenhar” sua árvore genealógica até a Itália.
As certidões de nascimento, casamento e óbito são custodiadas pelos registros civis dos locais onde ocorreram – se o seu pai nasceu em Bento Gonçalves, a certidão vai estar em um dos registros civis de Bento Gonçalves. Outra questão importante que está relacionada com a busca de informações diz respeito à pergunta a ser feita aos pais e avós; se perguntarmos onde determinada pessoa foi registrada, dificilmente teremos uma resposta. Porém, se a pergunta for “onde ele morava?” ou “como ele faleceu?” fica mais fácil acessar as memórias para relacionar com os eventos que estamos investigando. Como o registro em questão está no local onde o evento ocorreu, é para o registro civil daquela cidade que você deve ligar.
Todos os registros dão informações por telefone e as certidões podem ser solicitadas por e-mail. Pouca gente sabe que os cartórios são interligados através de um sistema chamado CRC (Central de Informações do Registro Civil), que permite que você materialize no cartório de Bento Gonçalves uma certidão de Passo Fundo, do Recife qualquer outro lugar do Brasil, evitando a necessidade de deslocamento. Então, em linhas gerais, tudo o que você vai fazer é um Pix para o cartório. Depois, é só esperar (cinco dias úteis) até a certidão chegar no cartório da sua cidade.
Para quem quer ir além até descobrir fotos inéditas da sua família, vale acessar um incrível caminho, através do maravilhoso arquivo do Family Search (www.familysearch.com) – a maior organização de pesquisa genealógica no mundo. Desafio você a entrar e não localizar nada da sua família! Outra dica é entrar no site quando tiver os nomes dos seus bisavós, porque assim encontrará mais material.
Imagine cada integrante da sua família como uma pedra. Italo Calvino (escritor italiano), descreve uma ponte: “Marco Polo descreve uma ponte, pedra por pedra. ‘Mas qual é a pedra que sustenta a ponte?’, pergunta Kublai Khan. ‘A ponte não é sustentada por esta ou aquela pedra’, responde Marco, ‘mas pela curva do arco que estas formam’. Kublai Khan permanece em silêncio, refletindo. Depois acrescenta: ‘Por que falar das pedras? Só o arco me interessa’. Marco Polo responde: ‘Sem pedras, o arco não existe’”. Sem eles, nós não existimos. De que pedras é formada sua ponte?
