A 63ª edição do Salone del Mobile de Milão trouxe uma mensagem clara e necessária: é tempo de colocar as pessoas no centro dos projetos de design. Com o tema “Thought for Humans” (Pensado para os Humanos), o evento mais importante do mundo no setor de mobiliário e interiores chamou a atenção por sua abordagem sensível, empática e regenerativa — especialmente relevante para áreas como a saúde e o corporativo.
Do toque à memória: a imersão sensorial da Lando Design no Salone del Mobile 2025
Entre as mais de duas mil marcas expositoras, tramas naturais, luzes esculturais e mobiliário sensorial encantaram os olhares atentos da equipe da Lando Design. As arquitetas Carolina Onzi Giovanella e Camila Cavalli Dalcin participaram da feira e das instalações paralelas que ocuparam a cidade, vivenciando uma experiência que, segundo elas, foi “transformadora”.
“Vivenciar as tendências de forma aplicada, em espaços cuidadosamente projetados para despertar todos os sentidos, foi uma experiência transformadora”, Camila Cavalli Dalcin. “Estar em Milão durante a Semana de Design nos proporcionou uma verdadeira imersão no universo da arquitetura e do design”, completa.
A estética do natural e do sensorial e a Iluminação como escultura
Entre os destaques da edição, a Lando Design aponta a valorização da estética natural e sensorial. “O uso de tons terrosos, madeira em estado bruto, tramas como palha e bambu mostraram uma busca por bem-estar e acolhimento. É um design que convida ao toque e à experiência”, destaca Carolina. A sensorialidade também ganhou força na iluminação, especialmente nas instalações da Euroluce. “A luz foi tratada como escultura. Havia peças poéticas, ousadas, que transcendem a função técnica da luminária e se tornam protagonistas dos ambientes”, diz Camila.
Sustentabilidade como ponto de partida
Outro ponto essencial abordado na feira foi a sustentabilidade. “Ela deixou de ser um diferencial e passou a ser ponto de partida. As empresas estão repensando desde os materiais até os processos produtivos com foco em responsabilidade ambiental”, comenta Camila. Carolina reforça que a consciência ecológica está mais madura: “O consumidor está mais atento, exigente e engajado. Isso também está impactando positivamente o mercado brasileiro, com mais investimentos em processos eficientes e materiais de menor impacto”.
Para as profissionais da Lando Design, que além de Carolina e Camila tem na equipe a arquiteta Ângela Paudo, muitas tendências vistas em Milão têm potencial de adaptação à realidade brasileira. “A busca por ambientes que despertem os sentidos é algo que já vemos acontecer por aqui. Espaços que acolhem, que emocionam, estão cada vez mais valorizados tanto no residencial quanto no corporativo”, afirma Camila. “O uso de tecidos em revestimentos, cortinas e painéis, por exemplo, é uma solução simples, mas com grande impacto sensorial e estético”, complementa Carolina.
Inspirações do Fuorisalone
As instalações do Fuorisalone também foram fonte de inspiração.
“Foram espaços artísticos e experimentais que nos permitiram absorver novas abordagens criativas, fornecedores e materiais. É um ambiente que alimenta nossa inquieta curiosidade e fortalece nossa essência criativa”, destaca Carolina.
O design que provoca emoções
Para a equipe, o design emocional e sensorial dominou a narrativa desta edição.
“Os estandes se tornaram cenários imersivos, com experiências olfativas, auditivas e visuais que provocavam reações emocionais”, conta Camila. “Esse tipo de abordagem aprofunda a conexão entre o espaço e o usuário, e é algo que aplicamos em nossos projetos, por meio de luzes, texturas, sons e aromas que evocam memórias e sensações”, complementa Carolina.
E se tivessem que traduzir o Salone del Mobile 2025 em uma frase, a essência da experiência, segundo a Lando Design, seria: “Do toque à memória: o design que ativa os sentidos.”
Design centrado no ser humano
Para a arquiteta Adriana Peccin, especialista em projetos e mentorias para consultórios, clínicas, hospitais e casas de repouso, o tema da feira provocou uma reflexão que vai além da estética: “Durante décadas, o design correu atrás da estética, da função, da tecnologia e do mercado. Mas muitas vezes esqueceu o principal: as pessoas. Esqueceu que por trás de cada espaço, móvel ou equipamento existe alguém que sonha, que vive, que trabalha”, afirma.
Ambientes de trabalho mais humanos
No setor corporativo, a arquiteta destaca o estande da marca ARPER como um dos mais inspiradores. “Eles transcenderam a simples funcionalidade do mobiliário e apresentaram espaços que promovem bem-estar, pausa e reconexão”, comenta. A proposta rompe com o layout tradicional dos escritórios e aponta para um futuro com ambientes multifuncionais, que favorecem a criatividade, a regeneração e a interação social. Outros destaques incluem o uso de mobiliário modular e adaptável, paletas de cores otimistas, soluções acústicas para escritórios abertos e uma ênfase clara em materiais sustentáveis e tecnologias que aliam estética e funcionalidade.
Humanização no ambiente hospitalar
Mesmo sendo uma feira voltada tradicionalmente ao design residencial e corporativo, Adriana reforça que muitas das soluções apresentadas dialogam diretamente com os desafios dos espaços de saúde no Brasil. “O futuro dos hospitais está cada vez mais próximo do design biofílico e regenerativo. Precisamos de ambientes que cuidam, acolhem e respeitam o ser humano”, defende.
Entre as principais inspirações para aplicar em clínicas e hospitais, ela cita:
- Mobiliário flexível e adaptável;
- Texturas naturais e materiais sustentáveis;
- Soluções acústicas e iluminação integrada;
- Ambientes híbridos que permitam tanto o trabalho técnico quanto momentos de relaxamento.
Inovações tecnológicas e bem-estar
A tecnologia também teve seu espaço com destaque. Adriana ressalta a importância da iluminação inteligente, apresentada na Euroluce, que destacou a influência da luz sobre nosso comportamento, estado de espírito e desempenho. “Vimos sistemas de iluminação adaptáveis, tecidos antibacterianos sustentáveis e móveis com ergonomia pensada no conforto real do usuário”, aponta.
Emoção e inspiração
A arquiteta revela que se emocionou com a nova coleção de Karim Rashid em parceria com a KARE Design. “São 64 peças que combinam formas orgânicas, tons pastéis suaves e acentos em neon ousados. É uma coleção que inspira alegria, criatividade e contemplação. A peça que mais me marcou foi o estofado DREAMSCAPE, com formas exageradas e uma silhueta elegante e futurista”, conta.
Um novo olhar para a arquitetura da saúde
Para Adriana, o maior legado da feira vai além das tendências e inovações. Está na experiência. “No design para a saúde, buscamos criar não apenas espaços funcionais, mas experiências que acolhem, acalmam e transformam. Como sempre digo nas minhas mentorias: tecnologia sim, somos aliados — mas jamais podemos deixar de lado as pessoas.”
Se fosse para resumir essa edição do Salone em uma frase, Adriana não hesita: “experiência do usuário”.
Adriana Peccin
Especialista em Arquitetura Hospitalar
@adrianapeccin.arqhospitalar
(54) 99901-0009