Sabe aquela frase “a rotina desgasta”? Pois é, por muito tempo eu acreditei nisso. Eu acreditei que a rotina corrida do dia a dia não me deixava “tempo” para meu autocuidado ou para estar com as pessoas que eu amava.
Eu me sentia engolida pela rotina. E, muitas vezes, isso se confunde com “nossa, já estamos em outubro? Logo será Natal”. Sim, porque a gente também costuma colocar a culpa da correria do dia a dia e a relação com o tempo na rotina. Novamente, a sensação de que a rotina engole nossa vida.
O meu convite neste texto é para que possamos refletir sobre um outro olhar. Sobre o olhar de que nós é que ditamos a nossa rotina. Nós que encaixamos, ou não, o autocuidado nela. Nós que decidimos com quem estaremos, quais projetos escolhemos, nosso trabalho, nossas leituras, nossos estudos e tudo mais.
Por meio deste olhar, pude perceber o quanto a rotina se tornou uma bengala para as minhas inconstâncias. Certamente, ela não era culpada pela minha falta de tempo e atenção para o essencial e, sim, uma desculpa para não direcionar o meu olhar e, por que não, a minha atenção.
Somos viscerais ao encontrar uma “desculpa” para nossas fraquezas. Permanecemos ali tempo demais, acreditando que é aquilo que está nos segurando, o que, na verdade, é um autoboicote. Ao nos distanciarmos de nossa autorresponsabilidade, nos distanciamos do nosso poder. Percebam o poder que eu coloquei, por anos, na rotina. O poder de transformar minha vida para melhor ou pior. Mas, ao entrar no fluxo da rotina, temos que estar conscientes de que mudá-la é nossa responsabilidade.
E, aqui, chegamos nos culpados. Na esposa, no marido, no chefe, no pai, na mãe… Sim, porque a rotina atribulada acaba por ser uma consequência do que estas figuras representam e das suas necessidades diárias. Mais uma vez, colocamos o poder nas mãos de outras pessoas e, com isso, fugimos de nossas responsabilidades.
É como se ficássemos presos na nossa infância, como uma criança de 6 a 7 anos que quer autonomia, mas não quer se responsabilizar pelas consequências. É neste ponto que está fundamentada a tal da inteligência emocional. Quando não assumimos em nossas mãos o poder da nossa vida, tomando muitas decisões erradas, nos distanciamos da inteligência emocional. E então ficamos presos na nossa doce infância, esperando que os outros mudem a nossa rotina e nos salvem dos buracos que nós mesmos cavamos.
Eu afirmo, todos os dias, que eu amo a minha rotina. Sabe por quê? Porque eu sou a responsável por ela. Eu crio, planejo, executo e arco com as consequências das minhas escolhas diárias. Da minha rotina. E nesse processo eu me torno adulta. Uma adulta comum, que tem inúmeros defeitos, algumas qualidades e o essencial, que arca com as consequências das suas escolhas.
Toda vez que há uma fuga da minha responsabilidade sobre tudo o que acontece comigo, me sinto fraca. É como se fosse uma criptonita, que vai tirando o meu poder. Muitas vezes a criptonita chega, justamente, quando a rotina não está instalada, por exemplo, em feriados, finais de semana. E foi assim que percebi que a rotina me deixa tranquila.
Mas essa tranquilidade só chegou porque eu não tiro o poder das minhas mãos. Eu não permito que outros decidam por mim. E quando, eu tomo as decisões para o menos, isto é, a situação em que eu vou perder algo, o reflexo no sono é imediato. Sabe por quê? O sono tranquilo só chega quando as tarefas propostas foram concluídas. Perceba que quanto mais tarefas acumuladas, menor a qualidade do sono.
Essa relação me fez perceber que é melhor constância do que saltos quânticos. E, nesta percepção, consegui planejar uma rotina exequível. Um pequeno passo por dia é melhor do que ficar parado. Ou seria paralisado?
Santa rotina!!!