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Arquitetura é totalidade

Por Marina Assmann Ferrari (artigo AEARV)

Imagem: Reprodução Pexels

Começo este texto com uma afirmação que parece óbvia, mas é necessária de ser lembrada: arquitetura não deve ser feita em molde. Os espaços não têm as mesmas medidas, nem as mesmas pessoas usufruindo do ambiente, muito menos o mesmo entorno ou clima. Cada projeto deve ser pensado em suas individualidades, trazendo o sentido do profissional arquiteto para realizar o verdadeiro ofício de arquitetar: planejar e projetar espaços arquitetônicos.

Não falo somente de colocar medidas em escalas ou trazer referências quanto à funcionalidades e estética, mas principalmente de observar o ambiente e fazer a arquitetura se encaixar ao espaço, respeitando a essência do lugar e evidenciado o que ali há de melhor. É sobre respeitar o contexto e interligar o discurso visual, projetando para a coexistência e não apenas sobrepondo estruturas sem esse cuidado.

É preciso respeitar a arquitetura da região mantendo a cultura do lugar viva através das construções. O movimento contrário causa um ruído visual difícil de conviver, afinal, arquitetura é totalidade!

Por isso, é preciso destacar que ao iniciar uma construção, é preciso escutar o entorno. Não só no sentido poético, mas para criar o caráter da construção, o que envolve a  escolha da materialidade, questões técnicas e construtivas e estratégias de projeto para tornar uma construção de elevada qualidade. O profissional que prioriza isso, traz sentido a cada canto projetado a fim de evidenciar a arquitetura que será vivida todo o dia, aquela que vai além do belo, evitando modismos ou tendências.

Não podemos esquecer que o espaço arquitetônico é a corporificação do espaço existencial, ou seja, deve trazer a sensação de pertencimento ao espaço.

O arquiteto e teórico em arquitetura brasileira, Lúcio Costa, diz em seus textos que uma construção não pode satisfazer apenas exigências técnicas e funcionais mas também não pode se perder em intenções meramente decorativas como uma cenografia, ele afirma: “quando tudo isso se vai pouco a pouco somando, obedecendo aos mais severos preceitos técnicos e funcionais, mas também àquela intenção superior que seleciona, coordena e orienta em determinado sentido toda essa massa confusa e contraditória de detalhes, transmitindo assim um conjunto de ritmo, expressão, unidade e clareza – o que confere à obra o seu caráter de permanência, isto sim é arquitetura”.

O trabalho do arquiteto envolve uma etapa inegociável de estudo, utilizando de papel, lápis, borracha e criatividade, até chegar a uma opção assertiva que revele o melhor que o lugar tem a oferecer, unindo estética, funcionalidade, sustentabilidade e conforto térmico – alcançado através da observação do sentido dos ventos, posicionamento solar, entendimento da topografia e da escolha da técnica construtiva. O trabalho é árduo, porém é isso que transforma um croqui em uma obra com “caráter de permanência”, como define Lúcio Costa no trecho acima.

Com a emergência climática, a utilização de energia limpa será cada vez mais importante nos projetos, já que aquecer ou resfriar uma casa ficará sempre mais caro e implicará mais problemas em nosso ambiente. Assim, os detalhes que envolvem o conforto térmico – como escolha coerente de materiais que possam sobreviver ao passar do tempo, ventilação cruzada, sombreamento e iluminação natural, devem ser pensados no projeto, como uma premissa básica para o presente e para o futuro.

É o que se conhece como arquitetura passiva: uma estratégia que conta com mecanismos naturais de condicionamento para projetar um espaço, buscando a harmonia entre o ambiente natural e o espaço construído, levando em consideração as características próprias como clima, recursos e elementos naturais.

Nas casas antigas, rudimentares, arquitetura passiva era bastante utilizada como uma estratégia e que, ao longo do tempo, com a estética sobreposta, muitas vezes acaba não sendo levada em conta.

No livro “O que é arquitetura”, o autor Carlos A.C. Lemos, nos faz refletir sobre a arquitetura ao longo do tempo e como ela ainda serve de base aos projetos contemporâneos, e como os caminhos para uma construção bela dependem de inúmeros fatores, que são específicos de cada projeto.

A busca por uma edificação onde os sentidos tateiam os espaços, é a missão do arquiteto, deixar os sentidos absorverem os ambientes projetados. Afinal, a arquitetura sempre deve refletir uma relação recíproca entre o humano e seu entorno.

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